Crônica: Para não esquecer

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Por: Sérgio Sant’Anna*

Lembrei-me deste texto ontem quando debatiamos,  eu e alguns alunos do Ensino Médio, sobre a tragédia efetuada pela pandemia e a falta de gestão durante esse período. Tragédia dantes nunca elencada nos livros de História. Leiamos:

“Ela foi e não retornou. Saiu rindo, alegre, disse que seriam exames… Deu positivo, covitada. Internaram-na. Como farei com as crianças? Quem a acompanhará no hospital? Ninguém. Não há permissão para acompanhantes. Doença séria. Como farei com as crianças? Uma recepcionista ligou, ela precisou ser entubada. E agora? Como farei com as crianças? Penso em seu sofrimento. Suas dores, seus pensamentos clamando por ar. Ela não fala mais. Sonho com sua imagem. Ela vem nos visitar. Parece querer se despedir. Dormem minhas crianças, porém a mais nova vive a soluçar. Chora pedindo pela mãe. Ainda vejo o seu batom aberto, o estojo de maquiagem em cima da mesa no quarto dos fundos. O tomate fiz sem sal, o arroz tornou-se uma “papa”, o bife torrou. Deixei a luz do quarto acesa, conforme pedira antes de se dirigir ao hospital. Afirmou que voltaria num piscar de luzes. Ela te espera. Nós te esperamos… Há algumas horas ligou a recepcionista hospitalar, afirmou que seu ar acabara. Apaguei àquela luz com o choro embargado, e as têmporas dilatando. As crianças gritavam…Como hei de resistir? (In: Relatos pandêmicos – diários de quarentena. Editora Sol Nascente. SC. Sérgio Augusto Sant’Anna. 2021. Pág.17)”.

Que Deus conforte o coração dos familiares de mais de 700.000 pessoas vítimas da covid-19.

* Sérgio Sant’Anna é Professor de Língua Portuguesa do Anglo e COC Professor de Redação da Rede Adventista e Jornalista.

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.

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